terça-feira, 26 de outubro de 2010

O CAMINHO SAGRADO DO POVO GUARANI


“Quando Nhanderu fez o mundo, ele fez também os caminhos!”

O povo Guarani tem um profundo respeito pelos caminhos. O “caminho”, o “caminhante” e o “caminhar” são realidades e conceitos preciosos dentro do seu complexo mundo cultural.
Tanto que eles, notadamente os mbyás, orgulhosamente se autodefinem como “tapejaras”, palavra que algumas vezes vezes aparece traduzida como “povo sempre em movimento”.

Conforme relatou Werá Tupã à pesquisadora Rosana Bond:
“Nós somos tapedjá porque sempre estamos no caminho. Falam muita coisa, mas de verdade essa palavra significa ‘guardião dos caminhos’. Não quer dizer só guia de estrada, mas também do caminho espiritual,”
Os Guarani sacralizam as caminhadas, chamadas “oguatá”.
Segundo Celeste Ciccarone: “Oguatá, a caminhada, é a representação do percurso da reatualização do mito original da fundação do mundo mbya (guarani) e de seus heróis fundadores: a existência do mundo terreno se faz e é feita pelo movimento, nomeando o espaço, rompendo o território, redescobrindo e reconquistando o mundo”.
“A migração é a celebração e a lamentação dos mbya sobre o mundo natural e humano. Um rito de identificação de um povo que não pára, um povo que caminha no espaço vivenciado como um campo de constante travessia, movimento e reciprocidade, uma comunicação de palavras, bens, mulheres e homens que circulam initerruptamente”.
A antropóloga Flávia de Mello diz que nas caminhadas, até os dias atuais, está um desejo da tribo de imitar os deuses, além de ser um reforço aos poderes dos xamãs:
“Oguatá Porá significa literalmente boa caminhada. O caminhar tem uma conatação cosmológica fundamental para os Guarani.
(...) É a forma com que os deuses construíram o mundo, e o caminhar pelas distintas aldeias, reconstruindo suas casas, roças, suas vidas enfim, reproduz essa conduta (das divindades).
(...) Em sentido mais amplo, oguatá é uma metáfora para ‘viver’. As oguatá, ato de caminhar, ou as ‘viagens’, são ações fundamentais para a aquisição e a utilização dos poderes xamânicos”.

* Resumo retirado do livro "História do Caminho de Peabiru - Volume I de Rosana Bond

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